Há 225 anos, Robespierre, o Incorruptível, era executado na guilhotina


Maximilien Robespierre foi o protótipo do ditador europeu moderno: sua visão hipócrita e santarrona da virtude e do terror republicano e o brutal massacre que ele desencadeou em nome do republicanismo foram estudados com reverência pelos bolcheviques russos e ajudaram a inspirar as matanças totalitárias do século 20.

Conhecido como O Incorruptível dos Olhos Verde-mar, seu nome tornou-se sinônimo da pureza fatal e da corrupção degenerada do Terror que seguiu à Revolução Francesa de 1789, e culminou com a execução do rei Luís XVI em 21 de janeiro de 1793. O Terror ilustrou não apenas os perigos corruptos dos monopólios utópicos da virtude, mas como, em última análise, tais caças às bruxas consomem seus próprios filhos.

Nascido na região de Artois, no norte da França, Robespierre era de uma família financeiramente estável, mas sua infância não foi feliz. Seu pai era um beberrão e sua mãe morreu quando tinha apenas seis anos. No entanto, o jovem Maximilien obteve uma vaga para estudar direito no prestigioso Lyceé Luis-le-Grand em Paris e logo ganhou fama de populista, defendendo os pobres contra os ricos.

Como muitos outros jovens profissionais liberais que conduziram a Revolução Francesa – a exemplo do fanático advogado Louis de Saint-Just (mais tarde apelidado de Anjo da Morte) ou do jornalista Jean-Paul Marrat – Robespierre absorveu avidamente as teorias filosóficas do suíço Jean-Jacques Rousseau, cuja noção de Contrato Social afirmava que um governo tinha que se basear na vontade do povo para ser verdadeiramente legitimo.

Embora minucioso e espalhafatosamente exigente com sua própria aparência, quase sempre usando perucas empoadas associadas aos libertinos aristocratas do Ancien Régime francês, Robespierre – com seu fiapo de voz, baixa estatura e pele pálida – não era uma figura imponente e tampouco causava boa impressão. Ainda assim, o conde de Mirabeau disse sobre ele no início da revolução: “Esse homem vai longe; ele acredita em tudo o que diz”.

Na esteira da tomada da Bastilha em julho de 1789, o evento que desencadeou a Revolução, Robespierre alinhou-se politicamente com a extrema-esquerda. Como representante de Artois na Assembleia Constituinte, estabelecida em julho de 1789 para decidir sobre uma nova Constituição, ele se envolveu de perto com a facção radical chamada de jacobinos, rival dos girondinos, estes mais moderados.

As ideias de Robespierre conquistaram uma plateia receptiva em meio à burguesia parisiense, e ele teve uma rápida ascensão, tornando-se, em 1791, acusador público (o que lhe dava poder de vida e morte sobre todos os cidadãos, sem recurso a julgamento ou apelação).

Uma implacável paranoia sobre potenciais inimigos da Revolução o atormentava, e em dezembro de 1792, quando Luís XVI foi levado a julgamento, Robespierre – um feroz crítico do rei – insistiu que “Luís deve morrer, para que o país possa viver”.

Foi sobretudo como um dos principais líderes do Comitê de Defesa Pública que Robespierre forjou sua reputação sanguinolenta. Criado pela Convenção Nacional em abril de 1793, o comitê foi um tribunal revolucionário investido de poderes ditatoriais ilimitados. Robespierre foi eleito membro em julho de 1793 e rapidamente instigou o assim chamado Terror.

Dezenas de milhares de traidores – ostensivamente aqueles que tinham expressado simpatia pela monarquia ou achavam que os jacobinos que os jacobinos haviam ido longe demais em sua inexorável perseguição aos inimigos do povo – foram detidos sem julgamento e perderam a cabeça na guilhotina.

Na realidade, qualquer um que Robespierre considerasse um inimigo era liquidado, empregando-se impiedosamente o aparato do Estado para silenciar o acusado. O próprio Robespierre garantiu pessoalmente que os rivais Georges Danton e Camille Desmoulins fossem executados em abril de 1794.

Robespierre e seus aliados voltaram às atenções para a crescente oposição à Revolução de Lyon, Marselha e na rural Vendeia, no oeste da França. Depois que mais de 100 mil homens, mulheres e crianças foram sistematicamente assassinados sob ordens de Robespierre, o general revolucionário François Joseph Westermann escreveu em uma carta ao Comitê: “Não existe mais Vendeia. Eu esmaguei as crianças sob os pés dos cavalos, massacrei as mulheres [...] exterminei. As estradas estão semeadas com cadáveres”.

Para Robespierre, a virtude revolucionária e o Terror andavam de mãos dadas. Como ele declarou em 1794: “Se a base do governo popular em tempos de paz é a virtude, as fontes do governo popular na revolução são ao mesmo tempo a virtude e o terror: a virtude, sem a qual o terror é funesto, o terror, sem o qual a virtude é impotente”.

A Convenção Nacional voltou-se de maneira decisiva contra Robespierre, cada vez mais malquisto por sua tirania, quando ele acusou seus membros de tramar uma conspiração para derrubá-lo. Emitiu-se um mandato de prisão contra ele, que se refugiou em sua base de poder no Hôtel de Ville em Paris.

Quando as tropas entraram no prédio para captura-lo, Robespierre, cercado por seus capangas Georges Couthon, Louis de Saint-Just, Philippe Le Bas e François Hanriot, tentou cometer suicídio, mas em vez disso o tiro que deu na própria boca deixou-o com a mandíbula dependurada.

Sangrando em profusão, uivando em agonia, foi rapidamente levado e terminou morrendo na guilhotina, sofrendo o destino de muitos de seus oponentes.

Alguns veem Robespierre como um dos pais fundadores da social-democracia, seus excessos revolucionários ocasionados por sua defesa da causa do povo. Muitos mais, no entanto, o veem como um déspota hipócrita cujo terror foi precursor da carnificina totalitária de Hitler e de Stálin nos tempos modernos.

Reportagem retirada do livro Titãs da História: Os gigantes que mudaram o nosso mundo,de Simon Sebag Montefiore (Editora: Planeta do Brasil, 2018).

Fonte: Aventuras na História

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