HISTÓRIA | O envolvimento dos Ferreira Veras na política



Os Ferreira Veras se envolveram em vários
acontecimentos de natureza política na região. O mais significativo desses envolvimentos foi promovido por um dos filhos do casal Diogo Álvares Ferreira e Thomasia Veras, chamado Domingos Ferreira de Veras – morador nas Frecheiras e detentor de grande influência na região.

De fato, no ano de 1839, Domingos deu abrigo aos revoltosos encabeçados por Raimundo Gomes, Manoel Francisco dos Anjos e o ex-escravo intitulado Dom Cosme Bento das Chagas, líderes do movimento chamado de “Balaiada”. Representando manifestação da população pobre contra a tirania da sociedade escravista da época, o movimento espalhou-se pelo norte do Piauí e Ceará gerando insegurança nas povoações e fazendas. Muitos historiadores comprovaram que a Balaiada, que utilizando o sistema de guerra de guerrilhas no sertão, era um grito de rebeldia contra as medidas adotadas
pela política dominante e autoritária, provocando o temor das oligarquias locais aferradas ao poder, sobretudo a adoção de medidas autoritárias e coercitivas “como o recrutamento militar forçado e a Lei dos
Prefeitos municipais, além dos chefes da Guarda Nacional, como o coronel do Chico Elias, do lugar Curral Grande, o ferrenho adversário de Domingos Ferreira Veras, filho de Diogo Álvares Ferreira”.

Sob o comando de Antônio de Sousa Cabral e apoio de Domingos Ferreira Veras, a
concentração de forças balaias atraiu para as Frecheiras, no ano de 1839, a atenção dos
contingentes legalistas das províncias do Ceará, do Piauí e do Maranhão. Enquanto agiu como protetor dos revoltosos, todas as noites Domingos abria as portas da capela para as rezas do terço e orações a N S do Rosário, prontamente obedecido pela horda de jagunços. Com isso, Frecheiras atiçou a fúria das autoridades políticas aferrados ao poder (já unindo bem-te-vis e cabanos no
Maranhão), passando a ser conhecida como lugar a ser desprezado e combatido com violência.

Jureni Machado especificou o contingente militar arregimentado para enfrentar os balaios:

"No dia 15 de Novembro de 1839 chegou, finalmente ali, o contingente inicial para compor o Comando Militar de Piracuruca, sob as ordens do tenente coronel Roberto Vieira Passos. O efetivo dessa guarnição era formado por 387 soldados, dez sargentos, dois capitães, um major e um tenente coronel comandante [...] A instalação
desse contingente neutralizou o perigo constante dos ataques balaios a partir do lugar Freicheiras que havia-se transformado em reduto de bandoleiros, sob o comando do chefe Antônio de Sousa Cabral".

O resultado foi a derrota dos insurretos, o isolamento das Frecheiras e desgraça de
Domingos e seus familiares, que passaram a sofrer toda a sorte de perseguições como acontece com aqueles que têm a infelicidade de terminar o conflito do lado dos vencidos. Profundo conhecedor da história e do acendrado espírito de religiosidade dos moradores da região, o historiador André Frota de Oliveira considerou que “ao invés de terem
enviado tropas para combatê-los, tivessem mandado para ali um missionário convincente, poderiam ter obtido resultados mais práticos e rápidos, menos dispendiosos e sangrentos”.

Igualmente controvertido como seu irmão Domingos era Antônio Álvares Ferreira
de Veras. Foi nomeado Sargento - mor do Terço de Infantaria da Parnaíba, em 28 de abril de 1784, posto do qual foi exonerado, através de ofício de 8 de maio de 1788, “por ter abusado da authoridade do dito posto servindo se dele para se constituir Régulo, e Absoluto Flagelo dos Povos com violencias atenttadas, e agravantes insultos [...] e por dar auxilio e coito nas suas fazendas a fascinonoras, de que se serve”.

Uma das razões que levou Antônio a perder o posto foi o processo que lhe moveu
João Luís Martins, alferes daquele mesmo regimento de infantaria, junto ao governador e capitão-general do Maranhão, Fernando Pereira Leite de Fóios. Com efeito, em carta de 4 de maio de 1784 para a rainha D. Maria I, Fóios relata que Antônio Álvares Ferreira de Veras tinha raptado a
mulher e um filho menor do alferes João Martins e a mantinha em seu poder escondida nas Frecheiras. Por esse crime e outros de que era acusado, chegou a ser preso e, depois, proibido de aproximar-se da Vila de São João da Parnaíba “nem a Sitio nenhum, que fique trez léguas em
circuito della”, por um período de um ano.
Além disso, por carta do padre Henrique José da Silva, vigário da vara e paroquial da
Vila de São João da Parnaíba, datada de 24 de outubro de 1795, sabemos que Antônio Álvares Ferreira de Veras ocupou o cargo de juiz Ordinário da Vila de São João da Parnaíba, onde teve sua participação questionada por envolvimentos nas questões de interesse dos vigários. Na
verdade, por trás de toda a questão, o que havia de concreto era o interesse de mando sobre o rico patrimônio de Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Piracuruca, deixado em testamento por
Manoel Dantas Correia.

Em 14 de junho de 1798, Antônio Álvares escreveu ao Secretário de Estado da
Marinha e Ultramar, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, rebatendo as acusações do padre Henrique e denunciando-o pelas “más intenções deste padre que se faz indigno do lugar que ocupa”.

Outro filho de Diogo e Thomasia, chamado José Álvares Ferreira de Veras, como
se viu, casou-se, no dia 17 de novembro de 1785, com Domingas Maria de Veras, filha de Domingos Alves Barroso e Ana de São Boa Ventura de Veras.

Era proprietário da fazenda Capivaras que herdara do pai e cuja posse lhe foi confirmada, em 25 de janeiro de 1825. Essa propriedade, com três léguas de comprimento por uma de largura.

A posse definitiva da fazenda Pacuty foi confirmada para dona Francisca Thomasia
de Veras, por Carta de Data e Sesmaria, a 8 de janeiro de 1820. Essa fazenda situava-se na margem do rio Pirangi e fazia testada pelo lado do nascente com a fazenda Capivaras, do capitão José Álvares Ferreira; ao norte com a fazenda Espírito Santo, do capitão Miguel Teixeira Monteiro; a sudoeste e noroeste com a fazenda Santa Ana e, para suleste, com a fazenda Gado
Bravo. Dona Francisca Thomasia de Veras era possuidora, ainda, da fazenda Belém
contendo igual comprimento de três léguas por uma de largo e mais outra data de igual tamanho situada entre o Cadoz, Bohyba, Algodões, Santa Bárbara e indo extremar ao nascente com a Juritianha, no município de Viçosa, com as terras do padre Bonifácio Manoel Antônio Lelou.


Bibliografia e fontes:

ARAGÃO, Raimundo Batista. Granja.

ARAÚJO, Francisco Sadoc de (padre). Cronologia Cearense. Volume I – 1604 – 1800.
Fortaleza: Gráfica Editorial Cearense Ltda, 1974.

BITENCOURT, Jureni Machado. Apontamentos Históricos da Piracuruca. Teresina:
Companhia editora do Piauí – COMEPI, 1989.

MIRANDA, Vicente. Três Séculos de Caminhada. Teresina: Halley, 2001.

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