Presos da Cadeia Pública de Granja têm curso de pintor dentro de cela



Há dois meses, um espaço da Cadeia Pública de Granja, na Região Norte do Estado, utilizado para detentos do regime semiaberto, virou sala de aulacom carteiras e lousa. No cômodo, 20 reclusos iniciaram um curso profissionalizante que traz um outro olhar sob as celas da Unidade: os presos estão aprendendo a pintar, na teoria e na prática. As aulas fazem parte do Projeto Oportunidade Colorida, que tem o objetivo de capacitar e promover a ressocialização dos detentos.
 
Mais de 100 presos cumprem, hoje, pena na cadeia de Granja, sendo que muitos destes ainda aguardam julgamento. A advogada e vice-presidente do Conselho da Comunidade, Saúde Teles, afirma que, além de uma oportunidade de formação, o curso combate os prejulgamentos sociais. O curso capacita os presos e oferece a oportunidade de terem uma profissão, visamos combater o preconceito e incluí-los no mercado”, ressalta.
 
Atividades diárias
 
O curso é dividido em três fases em que os alunos têm contato diário com o professor. Durante os primeiros 30 dias, os detentos tiveram aulas teóricas. No segundo momento, a fachada do Fórum de Granja serviu como laboratório prático e foi pintada e reformada. Agora, na terceira e última fase, os detentos pintarão a fachada de várias casas de um bairro pobre do Município. 
 
“Não sei nem assinar meu nome e nunca tinha ido a uma sala de aula, e agora terei um diploma e quando as pessoas perguntarem minha profissão posso dizer que sou pintor de parede. E minha pena ainda vai diminuir”, comemora um preso participante do Oportunidade Colorida.
Após a conclusão de todas as etapas, uma cerimônia de entrega dos certificados deve reunir os participantes do curso, familiares e convidados, no salão do júri do Fórum de Granja. Os agentes penitenciários também serão homenageados.
Projeto
 
O Oportunidade Colorida é uma parceria do Conselho da Comunidade da Cormarca de Granja com o juíz da Vara de Execução Penal e Promotoria de Justiça da cidade. Uma pesquisa foi feita com os internos para saber quais cursos teriam mais demanda. A maioria escolheu ter cursos de pintor de parede e cabeleireiro. 
 
No primeiro momento, por conta do espaço limitado da sala de aula, que foi pintada e arrumada pelos alunos, apenas 20 presos foram selecionados. A expectativa, agora, é que novas turmas sejam formadas. 
 
Concluído o curso, os internos receberão certificados referentes à formação. Além disso, como benefício, as penas serão reduzidas pelos dias de trabalho, segundo a lei das execuções penais. As 180h de duração do curso equivalem a 15 dias de remissão da pena. Pretendemos continuar. Como só temos uma sala, fazemos por turmas pequenas”, explica a vice-presidente do Conselho da Comunidade, Saúde Teles. 
 
“Quando o curso de pintor começou eu estava no regime fechado e participei das primeiras aulas, foi aí que consegui a liberdade e mesmo assim eu voltava para a cadeia no horário do curso para terminar. Esse curso mudou minha vida, saí da cadeia e já tenho trabalho, mesmo sendo um ex-preso”, relata um ex-detento de 29 anos do regime fechado e que, hoje, cumpre o restante da pena de seis anos no regime semiaberto.
Investimento
Para custear os materiais utilizados nos cursos, o juiz da Vara de Execução Penal, Guido Bezerra, encaminhou parte dos valores destinados à multa pecuniária de processos para o Conselho da Comunidade. “O cárcere, por si, só ratifica o processo de desumanização que já vem sendo a marca da existência de cada preso. Penso que a assunção do conhecimento de um ofício é uma das poucas ferramentas aptas ao resgate desses homens”, disse.

Fonte: Diário do Nordeste

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