O VELHO JATOBÁ | Miguel Fontenele Roque Aragão

 

Não existem mais xexéus, nem tizils e nem os Canários do Norte e os tempos vão mudando as coisas. O que se leva muitos anos para se conquistar pode se perder em pouco tempo, uma hora, um dia, um minuto, poucos segundos. Existem épocas em que os galos de campina são quase extintos dessa terra. Seria correto se extinguir os galos de campina, os tizils, canários da terra e xexéus e também a vegetação nativa das caatingas, únicas em todo o planeta terra?

Satisfeitas minhas curiosidades sobre o tempo de vida da cajazeira seguimos caminho e a lua prateada nos acompanha, agora de roupa trocada, bem clarinha e com estampas de um dragão em feroz disputa com um cavaleiro de armadura de lata e uma lança a lhe furar às arrogâncias. A luz se não existisse precisaria ser inventada. Gostamos tanto da lua quanto ratos de queijos. Nem todas as pessoas valorizam a lua quanto os outros, ou tizils, xexéus, galos de campina, canários do Norte, e até mesmo tamarinas. Sempre me dou bem com canapuns, chiles, chichás e toda qualquer planta existente. Devemos sempre lamentar pelos pés de lamim e de cipós de boi, pois não são valorizados.

Convidei o pai Anjo para o retorno ser pelo caminho velho, os nesse tempo ele ainda existia e era ainda trafegado, mas seja esclarecido que seu trânsito se devia mais a casa do Anjo Roque que a do Raimundo Roque e era por ali que sempre andávamos quando meninos e no Estreito. Passamos pela olaria e havia a sombra das oiticicas. Pouco mais a frente uns cajueiros e logo mais a passagem. A água tava rasa e com o tempo se apartaria. Tempos foram em que em uma conversa o pai Anjo disse que em tempos dele menino aquele braço de rio não existia e depois se abriu e tomou rumo por detrás da casa do Raimundo Anjo.

A passagem  tinha uma bacia boa de se banhar e os banhos ali quando pequenos eram sempre. Meu aprendizado de banho foi ali e lembro meu pai se abaixando na água, subíamos em seus ombros, mãos seguras em mãos, então ele se erguia e nos arremessava longe, e se voltava nadando.

Com poucas passadas chegamos onde o seu Mané de Paula passou um sufoco terrível devido ao lobisomem, só sobrevivendo devido ao facão que levava consigo e a carga de rapadura, pois havia adquirido devido aos carnaubais e não seria um lobisomem do meio das trevas que iria surrupiar sua carga tão doce e maravilhosa.

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